Ela caminhou pelo corredor tranquilamente, sem pressa. Levou os papéis para a recepcionista e respondeu às perguntas quase automaticamente. A calma na sua superfície não deixava transparecer em nada o que ocorria nas profundezas de seus pensamentos.
Em seguida, foi até o local onde deixara sua bolsa, mas nem mexeu nela. Segurou a pesada cadeira de metal pelo encosto e arremessou-a com força contra a janela de vidro. As outras duas mulheres na sala de espera se assustaram e correram para perto da recepcionista igualmente surpresa. A janela, entretanto, apenas trincou-se um pouco. “Tudo bem”, pensou ela, e ergueu a cadeira novamente, batendo com mais força. Fissuras mais profundas no vidro.
Olhou ao redor, viu as três mulheres ainda paralisadas. Isso lhe dava tempo, não iria demorar muito agora. Ergueu a cadeira mais uma vez, colocando toda sua força e sua vontade para agir e bateu uma última vez. O vidro cedeu e a cadeira escapou-lhe das mãos, mergulhando no vazio do outro lado.
Alguém gritava, alguém perguntava o que estava acontecendo. Ela não tomava conhecimento dessas coisas, apenas sentia o vento frio que entrava com força pela janela rompida. Via o vasto céu pálido de nuvens, a trama de ruas e avenidas que se espalhavam pelo chão, e a linha distante onde o solo e o céu se encontravam.
Não olhou para baixo, isso seria um erro, quebraria aquele momento. Manteve os olhos na linha do horizonte e caminhou com segurança para o dia cinzento lá fora. Um passo, dois passos, cacos de vidro sob seus sapatos, três passos e o vazio quando passou do lugar onde houve uma janela. Não queria que o chão se aproximando fosse sua última visão, então fechou os olhos e guardou em sua mente a vista do horizonte. Do oitavo andar até a calçada não levou muito tempo. Mas de qualquer modo, quem estava contando?
Simples ação
Manifestação de
Márcia Engel
| sábado, 19 de março de 2011 |
3
sussurros do além
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Na gaveta:
águas profundas,
ficção