Ilhabela de Lost - parte 1

| quinta-feira, 9 de abril de 2009 | 6 sussurros do além |
Só para manter vocês à par da aventura: eu sobrevivi aos 300 km de viagem!

Mas não foi fácil. Meu pai está dirigindo mal pra caramba. Só para dar uma idéia, quando chegávamos nos pedágios, eu tinha que olhar quais cabines estavam abertas, porque "contra o sol" ele não conseguia ver se a luz estava vermelha ou verde. Fora uma freada sem sentido numa curva dentro do túnel, porque do nada ele achou que tinha um caminhão na nossa frente. Depois, quando fizemos uma parada, tudo se esclareceu: ele estava usando os óculos antigos, não os novos. Dá pra saber o quanto são antigos só pelo caminhão fantasma no túnel, né?

Chegando em casa, tivemos novamente que trazer uma ordem de reintegração de posse, Tarzan e Chita não queriam nos deixar passar. Eu quase não acreditei na altura desse mato, nem parece que estive aqui em novembro com meu irmão. Novamente, vamos ter que promover uma operação de remoção da floresta atlântica do nosso quintal.

Trabalhamos nessa atividade de alto teor cultural desde domingo, e estamos mais ou menos na metade do caminho. Eu já estou com bronzeado de camarão na chapa, e as coisas só tendem a melhorar. Já tiveram um chefe sabe-tudo? Pois é, meu pai é assim, todas as minhas sugestões têm que passar por análise e aprovação. Uma das minhas sugestões para agilizar o trabalho, que já deu certo quando vim aqui com meu irmão, está em análise há 3 dias, e só agora foi aprovada. Aleluia!

Estou na ilha de Lost desde sábado, e ainda não vi os caras bonitos. Vou reclamar no Procon!

Sai zica!

| sábado, 4 de abril de 2009 | 6 sussurros do além |
As pessoas que me conhecem há algum tempo, já devem ter notado que quando as coisas dão errado comigo, as encrencas parecem sempre vir em série. Desgraça pouca é bobagem.

E eis que num dia como outro qualquer, chega uma carta da prefeitura de Ilhabela aqui, com aviso de recebimento e tudo. Em resumo, a carta nos dá 10 dias para limparmos nosso terreno, porque o mato alto é propício a pragas como caramujos africanos, répteis e roedores. Admito que lá tem caramujo aos montes mesmo, mas os únicos répteis e roedores que conheço por ali são os proprietários das casas vizinhas. Nem preciso dizer que sabemos direitinho quem fez a tal denúncia, porque da outra vez que estivemos lá, a vizinha reclamou dos caramujos. Engraçado como nunca ouvi ela reclamar de nada na época que o filho dela e os pivetes da rua quebravam nossas portas e janelas pra invadir a casa e roubar... panelas. Sim, porque nunca deixamos nada de valor lá dentro, a coisa mais cara que nos roubaram foi um botijão de gás pela metade.

Mas não vamos perder a linha da zica, o negócio é ter que ir logo para a ilha de Lost e entrar em luta com a natureza. Minha mãe doente não pode ir, meu irmão também tem que ficar para levá-la às sessões semanais que quimioterapia. Vamos eu, que não dirijo, e meu pai, que enxerga mal pra caralho. Tudo muito bem, tudo muito lindo, vou fazer uma viagem de 4 horas com alguém que não está com a visão a 100% para chegar num lugar onde os locais são uma merda, para fazer muito serviço pesado que ninguém merece...

Só uma nota à parte, no estilo do filme Premonição: no dia seguinte à decisão de irmos só meu pai e eu, chegou aqui o demonstrativo do meu seguro de vida. Mas a notícia é boa, eu ainda não valho o suficiente pra uma morte cinematográfica, vamos ter que aguardar mais um tempo.

Continuando, decidimos sair na sexta. Na quarta, o carro - que tinha acabado de voltar da oficina - começou a engasgar à toa. Quinta de manhã ele voltou ao mecânico. Começamos a admitir que talvez saíssemos no sábado... Na quinta o carro voltou certinho. Eu estava dando uma faxina na casa antes de viajar... e notamos que está vazando água pelo ladrão da caixa d'água. Em resumo, molhadeira, água vazando, dor de cabeça. Resolvemos fechar o registro e descobrimos que a concessionária fez o favor de colocar o modelo mais barato e inútil da face da terra, ele não veda totalmente, então continuava vazando aqui dentro. Ok, sexta não ia ter viagem mesmo, não dava pra deixar as coisas assim.

Sexta-feira, dia lindo. Meu irmão teve que subir no forro da casa pra trocar a bóia da caixa d'água, e fui eu ajudar com o serviço especializado de leva-e-traz de ferramentas. Que fique claro que eu tenho pavor de altura, então subir a escada acima do quarto degrau é um desafio enorme. Só por um irmão mesmo... O lugar é o inferno, a gente tem que andar de quatro, rala as mãos e os joelhos no cimento, tem sujeira que eu prefiro nem saber a origem, é quente e escuro. Enfim, melhor ficar levando e trazendo as ferramentas do que ter que ficar lá em cima como meu irmão ficou. A caixa d'água fica numa posição tão ruim que o serviço simples levou um tempão, já que era mais difícil alcançar o lugar do que fazer o serviço em si.

Estão mantendo a contagem? Até agora foi o problema no carro, a intimação da prefeitura da ilha de Lost, o conflito com a agenda de tratamento da minha mãe, ter que fazer uma viagem longa com alguém que dirige sem enxergar direito, mais um problema com o carro, um vazamento de água - que só descobrimos ser mais sério à noite quando não dava pra mexer - e o consequente alagamento de uma parte da casa, a manutenção na caixa d'água e o desafio de subir uma escada até o forro apertado e imundo da casa. E amanhã cedo partimos para a viagem, ainda temos a aventura na ilha de Lost à nossa espera...

É sério, tudo isso num espaço de uma semana não é normal. Eu nunca fui de acreditar em quebrante, olho gordo e coisas do gênero, mas isso já é demais também. Acho que vou fazer montinhos de sal grosso pela casa, comprar uns vasinhos de arruda, amarrar fitas vermelhas pra todo lado, procurar alguém que me benza...

Como diz meu pai, o filósofo, "tem dias em que o urubu de baixo caga no de cima". Mas não precisam ser tantos dias seguidos, né? Saravá!